"Estância" quer
dizer "lugar de estar", como as estâncias hidrominerais, tão populares, hoje.
Mas é também o lugar onde se cria gado para vender, ou seja, trata-se de uma
empresa comercial.
Foi o padre jesuÃta quem criou a estância gaúcha. Preocupado com a crise de
fome que assolava os povos, em 1634 o Padre Cristóbal de Mendonza trouxe mil
cabeças vacuns desde a Argentina, gado esse que foi distribuÃdo em "estâncias"
para o abastecimento dos povos. Alguns ficavam distantes das Missões, como a
de Santa Tecla, hoje no municÃpio de Bagé. Para cuidar das estâncias, os
jesuÃtas treinaram a cavalo Ãndios "vaqueros", que logo iriam se somar aquele
denso caldo humano do qual vai brotar o Gaúcho.
Expulsos os jesuÃtas, muito gado ficou por aqui e o branco - espanhol ou
português - foi se adonando de tudo, organizando as suas próprias estâncias. E
já registrando "marca" (que era enorme) e "sinal" (cortes especÃficos nas
orelhas dos animais), como persiste até hoje.
Essas primeiras estâncias tinham como limites os meramente naturais - rios,
montes, matos - mas cada um sabia o que era seu e até uma ninhada de tatus
assinalados era respeitada escrupulosamente pelos vizinhos... Ademais, os
jesuÃtas muitas vezes mandavam os Ãndios escavar extensos valos, para
delimitar áreas de campo, como os que existem ainda hoje na estância
Guabijutujá, em Tupanciretã. Depois, com os escravos, vieram as cercas de
pedra, existentes ainda hoje, que os serranos chamam de "taipa". Na metade do
século XIX aparece a cerca de arame, fazendo a divisa de potreiros, invernadas
e postos.
A estância gaúcha tradicional se compõe das Casas, onde mora o proprietário
com sua famÃlia, em cujos cômodos gente estranha não põe os pés, a não ser a
criadagem "de dentro". O galpão, ou galpões, é exclusividade da peonada, onde
cada peão em o seu catre, tarimba ou cama (hoje em dia, beliche) e aonde
sempre arde um fogo-de-chão para a roda do mate ou algum churrasquito meio
galopeado, quem sabe até de charque. O galpão é um reduto masculino. Mulheres
que nasceram e se criaram nas Casas da estância morrem de velhas sem conhecer
o interior do galpão...
A Casa do Capataz é onde este vive com a famÃlia, a meio termo entre as Casas
da estância e os galpões. As mangueiras, que podem ser de pedra, de arame, de
tábua ou de varejão (troncos) e que incluem a mangueira grande, o curro (ou
seringa), o tronco e os bretes, são os currais para encerrar o gado em
determinados trabalhos. E, quase sempre, o banheiro, que é grande para o gado
(vacuns) e pequeno para o rebanho (ovinos), onde se banham os animais com
remédios contra a sarna, o carrapato, etc...
Junto as Casas, o potreiro da frente, quase sempre despovoado de animais.
Atrás do galpão, o piquete, onde se soltam os animais de trabalho ou do "munÃcio"
(os que vão ser abatidos para o consumo da estância). Depois, as invernadas,
quase todas com nome: Invernada da Tapera, do Coqueiro, do Cerro, doValo.
Nessas invernadas se cuida do gado e numa delas está o parador do rodeio,
ponto de reunião da animalada para trabalhos especiais, como aparte e coisas
assim.
Longe das Casas, os postos, que só existem nas estâncias grandes. São o que o
nome diz, cuidados por um Posteiro, que mora num rancho com a famÃlia. Junto
aos matos, ou rio, vive algum Agregado, gente amiga do proprietário que obteve
licença para erguer um rancho nos campos deste e tem alguma vaquinha de leite,
uma hortinha, galinhas e porcos.
Hortas e lavouras não são comuns, ou fartas, na estância. O gaúcho sempre foi
um comedor de carne. Planta, quando muito, alguma batata-doce, milho, abóbora
e melancia. E só.
O pessoal da estância é o Patrão (e sua famÃlia), a gente das Casas (a
criadagem, inclusive a cozinheira), o Capataz (e sua famÃlia), a peonada, os
posteiros e agregados. De primeiro havia também o Maiodormo (administrador) e
o Sota-Capataz (logo abaixo do capataz na hierarquia campeira).
Há trabalhadores especializados que a estância tem ou não. Muitas vezes suas
tarefas são deferidas à peonada. São eles: carreteiro, domador, alambrador,
tropeiro, peão caseiro ou peão patieiro, poceiro, compositor, carroceiro,
lavoureiro, chacareiro, guasqueiro ou trançador. Quando não há alguém
habilitado para esses trabalhos, na estância, chama-se alguém. O peão comum é
o mensual e o contratado por jornada é o "peão por dia".
